O fim do escritório como o conhecíamos ampliou o espaço no qual uma empresa pode - e deve - saber como agir. Incentivar-se a atuar traz um risco, mas muito mais uma oportunidade que permitirá que você se posicione neste novo mundo como uma empresa ágil. Por outro lado, recusar o desafio comporta uma única certeza: permanecer num passado ao qual ninguém pode - ou quer - regressar.
A pandemia marcou muito mais do que uma mudança de formato para o escritório. Enquanto alguns países começam a emergir da parte mais crua da batalha contra a COVID19, empresas em todo o mundo começam a perceber que a verdadeira mudança se reflete na relação que a empresa pode ter com aqueles que trabalham com e para ela. A marca Employer ganha uma nova dimensão e estende-se para um espaço até pouco proibido: o privado. Casas e espaços familiares passaram a fazer parte dessa nova relação. Cabe às organizações aproveitar a oportunidade para saber conciliar o espaço de trabalho com o privado, gerando assim um novo ecossistema social.
Esse relacionamento expandido terá um impacto direto na marca de empregador da empresa. Um bom exemplo é o Google. A empresa Mountain view anunciou há dois meses que está suspendendo o retorno ao cargo até junho de 2021. A medida também significa a suspensão temporária do elemento que fazia a “experiência Google”. Trabalhar para o Google também foi sempre um pouco de trabalho "no" Google. Como poucas empresas, a empresa conseguiu transformar seu espaço físico em parte de sua marca empregadora.

Sem ter à disposição seus escritórios – com salas de reuniões de design; muitíssima luz, espaços lúdicos; comidas disponíveis a toda hora, mas sempre do melhor nível -, a companhia agora está obrigada a saber transmitir essa experiência Google aos seus colaboradores a partir do ecossistema que passaram a formar o âmbito laboral e privado. As empresas que avançaram nesse caminho, já adiantam que o modelo pode ser similar em todas as indústrias e negócios. ManGroup PLC, a maior administradora de fundos do mundo, acaba de anunciar que no futuro, 70% de seu pessoal não estará no escritório. Enquanto isso, empresas industriais colocam suas esperanças em soluções como as do departamento de I+D da Universidade de Stuttgart. A instituição da cidade que é sede de empresas como Daimler, Bosch ou Siemens, desenvolveu uma máscara de Realidade Aumentada, que permite a um engenheiro ter acesso virtual ao interior de sua fábrica.

Ter coragem de definir juntos novas regras éticas

O desafio, no entanto, não estará na solução e sim na mudança para encontrá-la. Saber definir o novo ecossistema que integrará o laboral com o privado significa para as empresas saber desenvolver um novo conjunto de regras éticas desconhecidas até o momento. Porque é bom recordar que as mudanças que exigem o novo mundo pós-pandemia, antes costumavam considerar-se “politicamente incorretos”.

O caminho escolhido pela SKY Airline pode ser uma alternativa. A companhia aérea latino-americana com operações em países como Chile, Peru, Brasil, Argentina, Colômbia e Uruguai, tomou a decisão para converter sua operação corporativa de sedes do Chile e Peru 100% ao modelo de teletrabalho.

Não o fez unilateralmente, e sim o fez com base em um trabalho com os 350 empregados que poderiam ser afetados pela medida: a partir de abril a companhia começou a realizar pesquisas semanais para avaliar e revisar o funcionamento do teletrabalho, o estado dos colaboradores e a eficiência da empresa.

O resultado das convocatórias mostrou que a maioria  apoiava a ideia do teletrabalho, permitindo concretizar a transformação de forma consensual.

Como valor adicional, o resultado refletiu a variada faixa etária que compõe a companhia: 70% de seus colaboradores são millennials ou geração Z- para facilitar o caminho, o resto baby boomers e pessoas mais velhas. A dimensão que antes ficava fora do espaço de trabalho, dessa forma passou a formar parte desta nova forma de pensar o trabalho.

 

 O desafio do líder: voltar a conectar

Outro exemplo é de uma companhia que nós, da Olivia, acompanhamos o processo de transformação: dos quatro andares que ocupa, destinou um como área de trabalho comum ou cowork. Este espaço pode ser aproveitado por aquelas pessoas que, por questões familiares, não podem estar trabalhando os cinco dias da semana em suas casas. Ao mesmo tempo, o espaço deve ser entendido como um lugar de encontro pontual para equipes, para que uma vez por semana possam voltar a ver e interagir de forma pessoal sem telas pelo meio.

Então, para fazer isso, a companhia soube interessar-se pelo lado menos conhecido das pessoas e gerou uma relação produtiva laboral que inclui espaços diferentes de relacionamento. Tudo devido a ter a decisão de sair dos costumes e por que não, ser também o que anteriormente poderia definir-se como “politicamente incorreto”.

Acompanhar as pessoas em seu caminho de um espaço tradicional para um universo ampliado de conexão com o trabalho será uma tarefa que recairá nos líderes, como já provaram durante o momento mais duro da pandemia.

Serão eles que personificarão o sucesso ou o fracasso nessa direção. A razão é simples: a experiência ganha mais protagonismo através das pessoas, do que através do físico. Bom seria que as organizações levassem isso em consideração e acompanhem também os seus líderes neste processo.

Entre as mudanças que a pandemia gerou, o escritório do futuro tende a ser como um lugar de passagem. Estará menos povoado por metro quadrado; se organizará por horários de uso; ampliará sua finalidade para um objetivo multifuncional. Saber ter o tato, mas também os procedimentos para conectar este mundo com o privado, vai requerer tanto a capacidade humana dos líderes como de sua expertise técnica.

Bem-vindos ao novo ecossistema social!

 

Por Alejandro Goldstein, sócio de OLIVIA

 

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