Greta e um novo modelo de transformação

Transcrição do Jornal La Nacion

Ninguém podia imaginar, há 20 anos, que uma adolescente principiante de origem sueca, poderia marcar a oposição mais séria ao Presidente dos Estados Unidos, provavelmente a pessoa mais poderosa do mundo hoje em dia e a sua política ambiental. Seu discurso na greve do clima em Nova Yorque, não somente comove aos Centennials ao redor do mundo, como também caracteriza um novo estilo de transformação a nível mundial.

As mudanças futuras não necessariamente virão dos típicos líderes mundiais que ocupam posições de poder. O caso de Greta é paradigmático para entender como se move o mundo nesta nova era.
Trata-se de um padrão de conduta? Pois a resposta inicial pode ser que não, porque habitualmente não é fácil identificar como tal, porque no correr do dia a dia, nem sempre se tem a mão todos os dados nem os casos para poder ver a tendência, porém, o certo é que é cada vez mais frequente ver como grupos pequenos de pessoas conseguem gerar manifestações massivas que podem chegar a provocar terremotos (contra) culturais e políticos importantes.

A questão é que agora acontece de modo mais veloz e amplificado pelos canais digitais de comunicação. Exercitemos o pensamento de alguns fenômenos transformadores dos últimos anos fiéis a estes tempos e buscar, através da construção social, alguma aprendizagem organizacional.

Um clássico neste sentido é a “Primavera árabe”. Tratou-se do movimento iniciado em 2010 em Túnez, por um comerciante que, em sinal de queixa pelo trato que teve para com ele a polícia e o governo de Bem Ali. Este indivíduo decidiu imolar-se e sua pública morte iniciou um processo que levou ao governante tunecino a pedir demissão do cargo depois de 23 anos de governo ininterrupto. Mas a história não terminou aí. Atrás desse exemplo, esconderam- se os protestos no Egito contra Hosni Mubarak e em Líbia contra Gadafi, cada um com 30 e 42 anos no poder, respectivamente. Independente de haver existido ou não mudança de governo ou de regime, o certo é que um grupo inicial provocou um processo que afetou a nações com milhões de pessoas, em pouco tempo, em reinvindicação de respeito por direitos humanos hoje inquestionáveis no ocidente.

Por outro lado, o movimento #MeToo, surgido mas redes sociais em 2017, marcou um antes e depois na sociedade ocidental, dando destaque inicialmente às denúncias contra um produtor de cinema dos Estados Unidos, até converter-se em uma declaração de princípios e valores que chegou a cerca de 90 países, onde Argentina não é a exceção.

E talvez menos conhecido, mas não por isso menos importante, os casacos amarelos franceses, que em outubro de 2018 começaram um movimento contra o aumento dos combustíveis e os impostos sobre as emissões de carbono na Franca de Emmanuel Macron e que soube estender-se pela Europa. Neste caso, ainda não podemos tirar uma conclusão clara deste caso, como acontece nos outros dois, salvo pelo fato de que se apoiou em redes e começou por um grupo reduzido até, pelo menos, regionalizar-se.

Algumas características em comum destes fenômenos são que se fundam com propósitos nobres como são a esperança de direitos humanos e democracia no meio-oriente, igualdade de gênero e a revisão de políticas sociais e fiscais que impactam nas pessoas que são governadas pelos governos que não reduzem o gasto fiscal. Todos estes movimentos se iniciaram no seio da sociedade civil até chegar a enfrentar ao poder que está no momento e se mantêm vigentes sem que líderes claros possam intermediar. Não se trata de microculturas e sim de microgrupos que conseguem achar a seus pares em outras latitudes e que compartilham o mesmo sentimento a respeito da necessidade de mudança, gerando níveis altos de cultura e derrubando fronteiras que hoje já são uma experiência de vida. Quer dizer, começa a primar o conceito “Global citizens ”.

As organizações que estão conseguindo uma melhor eficiência em termos de transformação são as que conseguem trabalhar com os grupos de colaboradores no sentido de redes de valores e crenças compartilhadas, que potencializam a motivação no desenvolvimento das tarefas e que, sem reclamar. No mundo das organizações, o que estamos observando hoje é que, a verticalidade e os indicadores financeiros não são os únicos que regem o acionar das pessoas.

O conceito mais potente que desata a sustentação destes movimentos é a construção de comunidade. A única possibilidade de sustentação da transformação é quando, com um propósito claro, cooperamos e nos organizamos.

A criação de comunidades com propósitos que procuram melhorar a efetividade de suas ações. Seus valores, divulga-los para somar e virilizá-los e globalizá-los, é o que efetivamente permite os processos de transformação mais orquestrados. Iniciativas que não contemplem a criação de uma comunidade que dê suporte é o principal motivo de fracasso da transformação destes movimentos.

Aprender a se transformar por consenso, do seio de uma comunidade, será um dos grandes ativos do século XXI em termos de sobrevivência. Isto se aplica para a política, para as organizações e, em particular para as empresas, quando desejam conquistar vantagem competitiva no mercado.

 

Mas isso não se consegue magicamente. É necessário trabalhá-lo.

Por Ezequiel Kieczkier, Sócio de Olivia ( www.olivia-la.com )
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