24A Inteligência Artificial se transformou no grande motor para aproveitar o volume de dados que nossas equipes e empresas geram. Ao mesmo tempo, o poder que começa a implementar, levanta cada vez mais vozes de alerta. O caminho para destravar o dilema passa por nos perguntarmos que lugar as pessoas vão ocupar em tudo isso.

“Chegou a hora de parar e redigir um novo contrato social. Para decidir e determinar quais são os direitos e obrigações básicas de pessoas e máquinas neste novo mundo”. A frase pertence a José María Álvarez-Pallete, nada menos que o presidente da Telefónica a nível global. O máximo executivo alertava há uns dias em um artigo: “Não podemos deixar que a inteligência artificial corra solta. (Porque) Nem tudo o que a tecnologia é capaz de fazer, é bom ou socialmente aceitável”.

A advertência nos recorda -tanto por quem diz quanto por a quem representa- que nós humanos estamos em um momento-chave. Independente dos cenários tanto dantescos quanto utópicos que antecipam o salto evolutivo que a Inteligência Artificial representa, a única certeza que resta é que a IA transformará nossa vida: a nível pessoal, profissional e organizacional. Não há forma de evitar, sem correr um perigo real de “extinção”. Ou nos transformamos e, no caminho, também as nossas empresas e companhias, ou ficaremos relegados para, finalmente, desaparecer.

Na Olivia, consideramos que a transformação chega pela crise ou pela visão. E como preferimos sempre a visão, quero comentar hoje com vocês as condições que devemos gerar nas nossas organizações para aproveitar -e não padecer- o que está chegando com a Inteligência Artificial.

Ferramenta ou transformação

Para começar, devemos nos perguntar como entendemos a IA. Nós a entendemos como uma ferramenta para tornar mais eficiente a dinâmica da nossa organização ou a identificamos como parte do processo de transformação (digital) que estamos obrigados a transitar hoje para continuarmos sendo competitivos amanhã? Em outras palavras, queremos utilizar a IA para acelerar processos pontuais ou entendemos que podemos aproveitá-la para transformar o nosso modelo de negócios.

É evidente que a segunda opção deveria ser a resposta. Mas é também aqui onde costumamos cometer a principal omissão que costumamos cometer na hora de dimensionar a Inteligência Artificial: o fator humano. É que qualquer implementação, desenvolvimento ou estratégia baseada na IA está destinada ao fracasso se não definirmos primeiro como nos posicionamos como pessoas perante o mundo dos dados; como entendemos o valor do dado e como o temos (ou não) incorporado a nosso dia a dia.

Para fazer isso, convido vocês a pensar em três pilares que toda organização deveria considerar – antes de iniciar seu caminho para a IA. Primeiro: quão ampla ou fechada é a nossa visão sobre o uso dos dados. Segundo: quanta mudança (cultural) nossa companhia precisa realizar para poder incorporar o uso do dado na nossa dinâmica diária e como base de tudo o que fazemos. Terceiro: como conseguimos que as pessoas que trabalham na nossa companhia se apropriem do dado e da inteligência que oferece para tudo o que fazem.

Pilar 1: Que tipo de visão temos do mundo dos dados

Nossas empresas e companhias geram e relevam hoje dados a cada segundo de sua existência. Como dizíamos, grande parte das companhias tentam -por omissão ou por desconhecimento- utilizar esta massa de informação para impactar em processos. No entanto, aproveitar os dados para nos transformarmos como organização exige ampliar a visão e gerar uma estratégia que permita aproveitar os dados de forma holística, sistêmica. Além de tornar o trabalho eficiente ou funcionar em uma área de negócio, esta visão utiliza os dados para impulsionar o diferencial que faz a nossa companhia. Os dados se tornam parte do propósito que nossa empresa tem. Os dados são utilizados para potencializar o diferencial, a razão de ser que temos como companhia, como grupo humano e como pessoas que o compõem.

Pilar 2: O quanto esta nossa cultura está preparada para a inteligência aplicada ao dado

O olhar holístico que gerarmos nos exigirá trabalhar sobre o coração daquilo que compõe a nossa organização, a sua cultura. Porque, não há dado que sirva, se não se ancorar como parte do conjunto de costumes; princípios e rotinas que definem a dinâmica de trabalho na nossa organização. Dito de outra forma, poderemos investir incontáveis quantias de dinheiro; contratar os assessores externos mais famosos; desenhar a estratégia mais sofisticada imaginável para tentar tirar proveito dos dados que geramos, mas se a cultura da nossa empresa não incorpora e “vive” o dado como sua principal ferramenta, tudo será em vão. A pergunta que devemos nos fazer aqui é: O quanto a cultura da nossa empresa está preparada para que as pessoas que a compõem saibam e estejam abertas a incorporar o dado como a base para o que fazem? Isso exige redimensionar aspectos de processos, das capacidades que devemos poder trazer ao dia a dia como também quanto à comunicação e à liderança resultante. No entanto, mais do que nada, exige saber trabalhar e instalar a disponibilidade dos nossos colaboradores para transformar o dado em sua única fonte para medir, dimensionar e graficar o que fazemos a cada dia. Quer dizer, instalar uma cultura de “data decision” a partir da qual tomar as nossas decisões baseadas em dados e não em opiniões.

Pilar 3: Como nos apropriamos de elementos culturais sobre a inteligência aplicada em dados como organização

Todo desenho de uma mudança cultural não terá impacto se não nos perguntarmos como tornamos isso tangível para que as pessoas a incorporem como parte da organização que compõem e, também, como as acompanhamos para que consigam fazer. Em outras palavras, como fazemos para que as pessoas se apropriem do valor do dado. Desde o início do Século 21, nossas organizações aprenderam a aproveitar os dados que nossas equipes geram via tecnologias como a Internet das Coisas (IoT), o 5G ou o machine learning.

Hoje estamos perante o desafio de sermos capazes de fazer o mesmo com os dados que geramos como humanos nas nossas interações diárias com toda a nossa cadeia de valor. E é aqui onde a Inteligência Artificial permite agora marcar uma diferença – se somos capazes de nos apropriarmos antes da cultura do dado.

A visão, a mudança cultural e a sua apropriação são então a base para poder pegarmos o trem do futuro que chega com o mundo dos dados e, em última instância com a Inteligência Artificial. No próximo artigo, comento para vocês como a prática do Transformation Analytics permite fazer isso de forma proativa para desenvolver o ativo mais importante que nossa organização tem para continuar evoluindo e se reinventar: seu talento.

Por Alejandro Goldstein sócio da Olivia.

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