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Liderança em crise: quando o poder deixa de inspirar confiança

Em um mundo onde as dinâmicas de poder e as relações internacionais se transformam rapidamente, a liderança enfrenta um desafio crucial: como manter a confiança em certos valores e códigos sem desgastar a autoridade?

O Salão Oval, epicentro do poder e símbolo da política norte-americana, tornou-se palco de um episódio que expõe as fissuras na rede de relações internacionais. O recente confronto, em que o presidente dos EUA desconsiderou o líder ucraniano diante das câmeras, reacende com ironia a pergunta: E agora, quem quer entrar no Salão Oval? Essa questão nos convida a repensar a liderança e a questionar a legitimidade de um modelo que parece ter esquecido os princípios da intersubjetividade e do diálogo.

A intersubjetividade, entendida como a capacidade de construir um entendimento compartilhado e estabelecer relações baseadas na confiança mútua, foi relegada a segundo plano em um contexto onde impera a lógica do “os fins justificam os meios”. O desprezo demonstrado não é um incidente isolado, mas sim a manifestação de uma tendência que prioriza resultados imediatos em detrimento da construção de vínculos sólidos e do respeito mútuo. Em tempos de crise, a política recorre a estratégias utilitaristas, onde a rapidez e a imagem importam mais do que o compromisso ético e a consolidação de relações duradouras.

O episódio na Casa Branca simboliza uma ruptura nos paradigmas tradicionais do poder

Não se trata apenas de uma afronta pessoal, mas de um alerta sobre o enfraquecimento da confiança, tanto no cenário internacional quanto no interno. A política, antes fundamentada no diálogo e na busca por consensos, hoje corre o risco de perder sua essência ao priorizar o espetáculo em detrimento do conteúdo. A desconfiança gerada por essas atitudes tem repercussões profundas nas instituições e na coesão social, corroendo a base sobre a qual se constrói uma liderança eficaz e sustentável.

A nova era da liderança exige uma abordagem sistêmica, que reconheça que cada decisão tem um impacto que vai além do imediato. Os líderes do futuro devem integrar diversas perspectivas e fomentar um ambiente onde o respeito e a colaboração sejam a norma. A intersubjetividade não é um luxo, mas uma necessidade para superar os desafios contemporâneos. Somente por meio de uma liderança baseada na escuta ativa e no diálogo genuíno será possível construir organizações que respondam às exigências de um mundo em constante transformação.

A ironia da pergunta "E agora, quem quer entrar no Salão Oval?" reside na evidente dissonância entre a imagem projetada pelo alto escalão do poder e a realidade das relações internacionais. A Casa Branca, historicamente um símbolo de liderança, agora enfrenta a difícil tarefa de reconstruir a confiança que, de alguma forma, foi abalada. Esse chamado à reflexão convida a repensar um modelo de liderança baseado na imagem e no desprezo, e a apostar em um caminho onde a ética, a transparência e o compromisso com o bem comum sejam os verdadeiros pilares.

A metamorfose da liderança é um imperativo

As cicatrizes dos eventos recentes evidenciam que o poder, quando exercido dessa maneira, leva à fragmentação das organizações e ao enfraquecimento das instituições. Construir uma liderança baseada na intersubjetividade implica reconhecer a importância da empatia e da reciprocidade nas relações internacionais. Cada interação e decisão tem o potencial de fortalecer ou enfraquecer a rede de confiança entre pessoas, comunidades e instituições.

A liderança de longo prazo deve ser um exercício de construção de pontes, em vez de um campo de batalha onde prevalecem a confrontação e a desqualificação. A recuperação da confiança no poder depende da capacidade dos líderes de reconhecer seus erros, aprender com eles e construir um caminho rumo à reconciliação e ao entendimento mútuo.

Além disso, é fundamental que os líderes se libertem da lógica do oportunismo e da busca incessante por resultados imediatos. A verdadeira força reside na capacidade de olhar além dos interesses particulares e se comprometer com um projeto coletivo que transcenda fronteiras e diferenças ideológicas. O desafio é transformar o poder em um instrumento a serviço da comunidade, com diálogo e transparência como pilares para organizações mais fortes, comunidades mais produtivas e inovadoras e, em última instância, para uma sociedade mais justa.

A lição é clara: o poder sem responsabilidade se desgasta, e a confiança, uma vez quebrada, é difícil de restaurar. Quem, afinal, quer entrar no Salão Oval quando as bases da convivência estão comprometidas? Quem se arriscaria a ser o próximo a sofrer esse tipo de tratamento? No mínimo, ficamos com mais um exemplo claro de como o comportamento dos líderes pode, em questão de segundos, mudar o sentido histórico que levou séculos para ser construído.

 

Por Ezequiel Kieczkier, CEO da Olivia

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