O tema de Inteligência Artificial (Artificial Intelligence - AI em inglês) entrou fortemente em meu radar de aprendizado há um certo tempo, quando iniciamos a discussão na Olivia Consultoria, sobre como poderíamos usar essa tecnologia para apoiar processos de transformação organizacional.
Recentemente, tive o prazer de participar de um evento da Abracom - Associação Brasileira das Agências de Comunicação, o 11º Verso e Reverso – IA Bem-vinda à Comunicação" com uma comunidade de mídia e comunicação que está no centro nervoso das transformações relativas à IA e seus impactos em negócios e pessoas.
Segundo o professor da Harvard Business School, Andy Wu, a Inteligência Artificial está apenas no início de transformar muito mais as estratégias de negócio do que podemos imaginar hoje. Ele reforça que esforços de aprendizado e investimento devem mirar o longo prazo e sinaliza que no curto prazo são as indústrias de gaming, mídia e comunicação que terão maiores impactos visíveis e positivos. Fiquei hiper impressionado ao ver depoimentos da Ana Domingues Apps, da Inpress Porter Novelli, tratando do tema com competência e seriedade para o negócio de comunicação.
Porém, meu olhar para todo este contexto, como advisor em transformação organizacional, é menos orientado a um setor ou indústria específico e mais para como podemos conectar estratégias de negócio às pessoas para que elas sejam as protagonistas das mudanças a partir de comportamentos individuais ou coletivos e sistemas e símbolos organizacionais.
E isso é fascinante do ponto de vista do mundo do trabalho, das dinâmicas de liderança e de como podemos acelerar as transformações. A Universidade de Harvard aparece como um grande centro de discussão do tema e todos os seus impactos, desde a Estratégia, Produtividade, Criatividade até a Cultura Organizacional.
Trago aqui 3 insights e desafios prioritários mencionados por professores desta Universidade para, em seguida, provocar o leitor para a ação e as imensas oportunidades que a inteligência artificial e outras ferramentas adjacentes podem proporcionar para ajudar nesta jornada de conexão das pessoas às estratégias de negócios.
1 – Insight ZERO: Não tenha medo nem evite a IA!
A expert Tsedal Neeley, professora da HBS que escreveu o artigo “8 questions about using AI responsibly answered” reforça que até hoje todas as novas tecnologias geraram muito mais oportunidades de emprego e novas oportunidades de trabalho que eventualmente perdas ou reduções de curto prazo.
Independente de resistências ou medos, a IA veio para ficar e agora a questão para as empresas não é usar ou não IA e seus modelos, mas como e onde implementá-las com segurança, ética e responsabilidade com todos os stakeholders.
Todas as empresas, independente do setor, deverão investir em educação e sensibilização para a fluência de todos seus colaboradores no conhecimento destas tecnologias, seus riscos, impactos e oportunidades.
2 – Insight 1: Sempre a liderança como fator de sucesso de transformação
Nitin Mittal, advisor lider global da Deloitte para IA, aponta para o papel do líder neste movimento transformacional e destaca o desenvolvimento de uma nova capacidade da liderança para gerir um novo padrão de equipes mesclando indivíduos e máquinas – que seriam os novos colegas de trabalho (co workers segundo ele) e que novos acordos de accountability e confiança serão necessários.
A professora Tsedal Neeley vai mais a fundo e reforça que um líder medíocre não subsiste em um mundo híbrido ou remoto atual – em que é impossível o micromanagement neste novo universo de IA.
Devemos estar conscientes, pois os valores da liderança têm menor flexibilidade para a mediocridade e todo líder deve se transformar em um líder com mindset digital.
E pensando em gestão de mudanças, existe a necessidade urgente de desenvolver LÍDERES DIGITAIS que compreendam as ferramentas e que consigam direcionar e criar guidelines para as implementações que não podem mais ser controladas totalmente.
Cada vez mais, será fator de sucesso para os líderes, estar aberto para, com responsabilidade, testar, pilotar e ajustar em ciclos curtos o uso de modelos de IA. São responsáveis também por identificar e reconhecer aqueles que fazem uso responsável de IA e treinar a todos nas novas competências e na famosa accountability de todos no uso de dados para o benefício não da organização, mas de stakeholders e da sociedade como um todo.
3 – Insight 3: Não é possível instalar novas tecnologias sem uma nova cultura
Tom Davenport, professor de Administração e Tecnologia da Informação da Babson College, tem estudado como as pessoas estão usando IA no trabalho e como as companhias podem apoiá-los e empoderá-los em prol dos benefícios desta tecnologia. Davenport é co-autor do artigo HBR – “we are all programmers now”e autor do libri “All-in one on AI: How Smart Companies Win Big with Artificial Intelligence”. Para ele, é fundamental que todas as empresas construam culturas compatíveis com a IA Generativa dentro de seus eixos estratégicos e com visão de longo prazo.
Estamos num novo contexto em que todos podem ser programadores e que será cada vez mais fácil usar todas estas ferramentas de data analytics, machine learning ou IA e produzir códigos sem barreiras. Segundo ele, nenhuma implementação IA será bem sucedida sem uma cultura de accountability do uso correto dos modelos e dados baseados em segurança, privacidade, ética, etc.
E será vital que os conselheiros da administração e os gestores estejam alinhados para ter noção de impactos, riscos e como a Organização deve responder a estes impactos. Eles devem mobilizar cada trabalhador para entender que além das habilidades de trabalho em equipe, agora existe mais um elemento como colega de trabalho: a IA. Como conviver com isso?
E agora: o que fazer com a Cultura Organizacional?
A partir destes insights e baseado em nossa experiência em transformação cultural, convido nosso leitor a imaginar que tipo de perguntas poderosas podem ser respondidas com IA para ajudar a transformar organizações e suas culturas na direção das estratégias desejadas.
Vale lembrar que, com o advento da IA e seus modelos, podemos sair de cruzar dados históricos de colaboradores, pesquisas de clima e engajamento para entender o passado e poder antecipar o futuro desejado, como por exemplo:
- Você sabe se sua organização tem prontidão para as mudanças necessárias?
- Quais são as áreas de resistência para estas mudanças? Existem níveis hierárquicos ou posições que são detratoras da mudança?
- Qual seria a melhor forma de se comunicar com cada público sabendo suas capacidades de aprendizagem e engajamento?
- Como estão posicionados os líderes nos comportamentos desejados da nova cultura com inovação tecnológica. Quais são os chamados líderes digitais?
- Quais são os influenciadores hoje dos comportamentos desejados para acelerar a transformação do seu negócio?
- Qual o risco de perda ou rotatividade de talentos e quais são eles se a estratégia for implementada?
Então, isso é totalmente possível com IA aplicada à cultura organizacional e chamamos isso de TRANSFORMATION ANALYTICS podendo impactar diretamente as estratégias de treinamento, comunicação, engajamento das empresas para atingir a transformação desejada.
Do ponto de vista prático, a IA no contexto de culturas organizacionais chegou para ficar e para otimizar priorização e investimentos em ações que conectem o melhor das equipes e pessoas em prol das transformações que cada empresa e a sociedade precisam.
As empresas estão iniciando esta jornada e tem muito a aprender, testar e ajustar. E a sua empresa, tem uma cultura organizacional que sustenta as novas estratégias com IA?
Por Reynaldo Naves, Sócio - OLIVIA Brasil