@América Retail “Somos o novo link de desenvolvimento?”
Homo Digital @América Retail
Quem tem hoje entre 30 e 50 anos provavelmente muito se dedicou para adquirir conhecimento e lidar com a modernidade, sem saber que teríamos em mãos estes dispositivos eletrônicos que quase 100% da população mundial urbana, profissional e corporativamente empregada carrega no seu bolso hoje e funciona como uma terceirização de seus cérebros. A relação é tão simbiótica que as pessoas ocupam 85% do seu tempo no celular que funciona como uma extensão de seus corpos. Os smartphones são uma pequena amostra visível da transformação digital da qual o ser humano é o protagonista.
Indo além, embora alguns resistam, o Waze hoje é quem marca o caminho a seguir quando alguém pega um Uber ou quando uma pessoa deseja se orientar para passear em um país novo. Basicamente, hoje é difícil se perder. Também mudam as formas de comunicação, de procurar a música que queremos e ou ainda assistir a filmes.
A transformação digital é realidade e hoje nossos cérebros percebem e processam as informações como resultado das mudanças tecnológicas às quais estamos expostos, o que afeta a maneira como pensamos, agimos e sentimos. Tudo isso implica na criação de novas formas de se relacionar, pessoalmente e também nas organizacionais, onde novas habilidades são necessárias para sobreviver.
Como pessoas, estamos nos transformando intensamente. A partir da experiência que temos com as telas, nos acostumamos a exigir imediatismo na resolução de tudo e nos baseamos mais em respostas tecnológicas do que nas pessoas. Isso é o que chamamos de HOMO DIGITALIS, o próximo passo, para homo sapiens e homo videns, respectivamente.
Qual é a diferença entre homo sapiens e homo digitalis? Tomemos por exemplo o gol de Maradona sobre os ingleses em 1986. Se o VAR tivesse existido na época, a Argentina provavelmente não teria saído campeã mundial porque a mão de Maradona não passaria desapercebida no primeiro gol contra a Inglaterra. No entanto, para o homo sapiens isso parece ruim porque negligencia um comportamento aceito como malandragem pessoal e uma parte essencial do jogo. Por outro lado, a homo digitalis não deixa de se referir ao “fato”, as provas oferecidas pela tecnologia sobre qualquer outro assunto. E isso se aplica a tudo, a ponto de validarmos a existência de um produto no estoque pelo nosso telefone, antes de perguntarmos ao gerente da loja no momento da compra.
Existem duas áreas nas quais as estruturas estabelecidas pelo homo sapiens não acompanharam o avanço do homo digitalis: educação e as organizações corporativas. A primeira área é a educação, porque ainda seguimos com a ideia de que a sala de aula é o lugar onde o conhecimento é transmitido e o lar é o lugar onde você o exercita, desconsiderando a ideia de que a sala de aula deveria ser um espaço para maior intercâmbio e socialização. Um local para criar, compartilhar e inovar. O segundo lugar é nas organizações do mundo dos negócios. Estruturas e processos da era industrial e analógica, profundamente arraigados em corporações, impedem que elas inovem e fazem com que percam muito espaço diante de empresas nativas digitais. Hoje, uma empresa com 70 anos de liderança em seu mercado, organizada por área de conhecimento, com hierarquias, grandes máquinas de controle, com prêmios e punições, se sente ameaçada por quatro amigos em uma garagem. São organizações diagramadas pelo Homo Sapiens, que entenderam que sua vantagem competitiva estava alinhada com um conhecimento proprietário e cuja cultura hoje não é funcional à era digital, tendo um olhar muito entrópico de si mesmo e deixando de lado o cliente, atual figura onipotente da atividade econômica.
Agilidade, flexibilidade, criatividade e foco no cliente são as características da cultura organizacional na nova Era. Gerar experiências únicas, diferenciação total de qualidade, serviços e inovação constante no modelo de negócios são os atributos de sucesso das organizações atuais. Além disso, entender e dominar dados, automatizar o aprendizado e prever comportamentos são as novas ferramentas que eles aplicam hoje.
Se nos perguntarmos se as organizações projetadas pelo homo sapiens podem ser transformadas, a resposta é: sim. O homo digitalis implica em uma reconfiguração do nosso pensamento numa fusão tecnológica com o resto da nossa biologia cognitiva. Isso nos torna mais rápidos, mais precisos, mas também mais humanos, porque a tecnologia nos dá tempo para isso.
Mas é claro que você tem que estar preparado para fazer essa mudança, começando por entendê-la e incorporá-la. As coisas não serão apenas melhores, mas também mais empolgantes. Isso acontece com PESSOAS e vai acontecer com as organizações, onde o mundo que se abre para elas é maravilhoso se souberem tirar vantagem disso.