Com a questão dos salários como prioridade na Argentina, as empresas enfrentam o desafio de dar forma a novas modalidades de trabalho. Os talentos IT, os mais demandados e o desafio de formar novos candidatos.
Em 2020 a pandemia nos obrigou a tomar um novo rumo dentro do mundo do trabalho. Em 2021 confirmou-se qual era a tendência a seguir. Qual será o desafio de 2022? Sem dúvidas, definir o modo no qual o emprego se desenvolverá, tendo em conta o passo que se deu para o formato híbrido e tentar consolidá-lo, pois já se sabe que os colaboradores querem que a jornada de tarefas se adapte a suas vidas e não o contrário. Além disso, em um país como a Argentina, a questão dos salários continua sendo prioritária na agenda do cenário laboral.
Comecemos pelo que interessa a todos: os salários. “Em uma recente pesquisa que realizamos na Adecco Argentina, no que participaram 302 empresas de diferentes perfis, era previsto um ajuste médio anual de 40,87% para o pessoal de convênio, que são os que geralmente recebem os ajustes nos meses de abril, julho e setembro. No caso dos que estão por fora, a média de ajuste anual é de 38,68% e eles costumam receber os ajustes salariais em janeiro, maio e outubro”, afirma Patricio Dewey, diretor comercial & Marketing da consultora de RRHH.
“Viemos de um quarto ano de salários que não conseguem superar a inflação. Julho e agosto deram certa esperança com um aumento na comparação por mês, mas foram um oásis no deserto. E em 2022 estamos por ver que as empresas continuem tentando que os salários não percam seu valor.
No quesito indústrias, energia e petróleo estão planejando maiores aumentos, enquanto que logística, construção e companhia de seguros estão planejando cifras menores”, explica Maximiliano Schellhas, diretor Geral de Staffing e Grandes Contas de Randstad Argentina.
“Alguns convênios estão negociando, mas assim como ocorreu nos últimos anos, se fala da possibilidade de que os salários passem outro exercício com um aumento inferior à inflação. O que vem acontecendo nos últimos anos e poderia repetir-se neste ano de 2022, é que os salários estão aproximadamente entre 6-8 pontos abaixo da inflação”, diz Claudia Sadowyk, gerente de Negócios e Serviços de Bayton.
Um dos fatores que incidirá sobre até onde pode chegar a empresa nos aumentos tem a ver com o nível de atividade. “Embora exista certa incerteza com relação ao impacto que podem ter as novas variantes de COVID, se prevê que a economia continue recuperando-se ao ritmo deste ano. Há setores que iniciavam um aumento de atividades como o turismo, ao que provavelmente lhe custe mais chegar a níveis pré-pandemia e outros dos que foram mais castigados como o entretenimento, a indumentária e o consumo que vão mostrando melhoras, embora não se trate ainda de uma recuperação genuína de um pequeno aumento”, analisa Daniel Iriarte, Diretor Associado de Glue Executive Search. Ao falar sobre os diferentes setores, “o digital continuará sendo um dos que mais cresce graças ao ramo da indústria do conhecimento, as fintech, as insurtech, o gaming, os marketplaces e outras. Continuará crescendo e competindo por talentos escassos com ofertas de todo o mundo”, acrescenta Iriarte.
“Todos os setores envolvidos com a velha receita de substituição de importações serão favorecidos em 2022, embora não implica que se destacarão em relação aos níveis de renda. Por exemplo, a indústria têxtil conta com muitas possibilidades de crescer, mas, no entanto, as indústrias que oferecem serviços ao exterior deveriam ver-se favorecidas, pelo baixo custo dos salários argentinos medidos em dólares”, opina Oscar Silvero, Corporate Public Relations Manager de PAE Argentina.
Voltaremos ou não ao escritório? Embora espera-se uma tendência a uma maior presencialidade, “o certo é que a grande maioria das companhias definiu que sua nova forma de trabalho será híbrida, portanto, combinarão trabalho virtual com presencial. Segundo nosso último estudo, a maioria das organizações voltou ou está em processo de voltar. O esquema híbrido já é uma realidade”, afirma Ivana Thornton, diretora de Career de Mercer.
Acreditamos que deverá ser planificado um futuro no que uma certa proporção de colaboradores trabalhará de suas casas, alguns do escritório e outros alternarão entre estes dois modos. De fato, 92% das organizações entrevistadas está analisando ou planejando a mudança ao modelo híbrido: 36% está analisando esta modalidade, mas não têm prazos para implementá-lo, 33% planeja incluir esta dinâmica laboral nos próximos 6 a 12 meses, 23% já está implementando, enquanto que somente 8% não tem projetado fazê-lo”, detalha Luis Guastini, diretor Geral de ManpowerGroup Argentina.
Por outro lado, perguntaram da consultoria que modalidade terão as empresas no primeiro trimestre de 2022 e “entre os setores que geralmente planejam implementar o modelo híbrido, se encontram Recursos Humanos (48%), Finanças (44%), Administração (43%), Tecnologia da Informação (41%) e Vendas, Recepção e Atendimento ao cliente (33%)", acrescenta Guastini.
Os que não se adaptarem perderão recursos e terão maior rotação de pessoal. Para manter o conceito de equipe e afiançar os valores e o DNA das empresas será importante não perder a oportunidade de realizar reuniões com os grupos de trabalho periodicamente de tal forma, aproveitando o contato pessoal para realizar atividades de coaching e ressaltar a sensação de fazer parte e também de equipe”, afirma Eduardo Harnan, vice-diretor Executivo de KPMG Argentina.
Neste sentido, Florencia Tristán, HR Manager Cono SuL de Kimberly-Clark, é clara ao descobrir os objetivos da empresa. “Estaremos abrindo nosso escritório de Olivos em janeiro de 2022, como uma proposta de trabalho híbrido baseado na flexibilidade como conceito fundamental. Queremos potenciar o escritório como um lugar de troca e construção criativas, implementando uma porcentagem de tempo no escritório e outro de forma remota. Nossa intenção é manter o bem-estar de nossos colaboradores e fazer de nosso escritório um espaço no que incentivemos a interação e colaboração, onde reforcemos nossa cultura e impulsionemos a inovação, a aprendizagem e o sentido de comunidade”.
E com relação à atração dos talentos, não pode esquecer a visão reconfigurada dos mesmos. “Entre os candidatos existe um maior interesse por fazer parte de empresas que tenham políticas de flexibilidade laboral, espaços de trabalho saudáveis, compromisso com a sensibilidade e o meio ambiente e políticas de diversidade.
Além disso, como se pode observar há vários anos, buscam que os objetivos da organização coincidam com suas metas pessoais e profissionais. No âmbito industrial e particularmente em operações, estas expectativas estão muito consolidadas”, explica Leandro di Nardo, diretor de NUMAN.
Nos últimos dois anos, a transformação digital terminou de consolidar-se em organizações de todas as indústrias. “Isto requer de determinados perfis profissionais específicos, por isso as principais buscas serão de desenvolvedores front end back end, e mobile; também especialistas em Cloud e em automatização de qualidade”, enumera Ariel Greco, Country Manager em intive Argentina.
Para o mercado de IT, em geral prevemos um bom ano. Os perfis mais demandados serão aqueles vinculados ao desenvolvimento de aplicações web e mobile, consultores de soluções na nuvem, perfis de infraestrutura e segurança informática e posições de liderança”, esclarece Alejandro Villa, gerente de Operaciones de Witbor.
Um dos maiores desafios que todas as indústrias têm é lutar contra a escassez de talento, que se soma à fuga dos mesmos. “Os profissionais argentinos foram historicamente valorizados pela indústria global e hoje a concorrência se torna muito mais intensa.
A Argentina é um dos países na região que lidera o êxodo de talentos ao exterior e as constantes crises que atravessa nosso país são um catalizador para que isto ocorra. Atualmente, 6 de cada 10 estudantes universitários querem ir do país, um número que supera o que acontecia em 2001, quando somente 4 de cada 10 pensavam em emigrar”, indicam do Banco Galícia.
Julieta Prada, gerente de Comunicações Corporativas e Marketing de Grupo Gestão, destaca um alerta prévio à empresa em si: “é prioritário que tanto o Estado como o setor privado e o educativo trabalhem de maneira coordenada para reverter os índices de evasão escolar e incrementar a qualidade educativa, assim como a formação e capacitação em novas habilidades para incluir a maior quantidade de pessoas em um mercado laboral que exige novas competências”.
Analisando que será o prioritário em 2022, Sadowyk garante que o ano estará marcado muito fortemente pelo contexto econômico-social e político. As empresas buscarão obter créditos com taxas razoáveis que lhes permita poder crescer e abrir mercados ao exterior tentando recuperar o mercado perdido. Outra ocupação é continuar estando em alerta com os protocolos de saúde já que a aparição de diferentes cepas pode voltar a provocar outra mudança econômica”.
As organizações terão o desafio de: humanizar os vínculos e a instalação da flexibilidade e a liberdade como duas condições exigidas pelas pessoas realmente talentosas. Somamos a isso a geração de condições adaptáveis, a seleção da presencialidade para ocasiões que valham a pena, a geração de equilíbrio e bem-estar na agenda dos colaboradores. A necessidade de gerar cultura organizacional nas casas será um desafio transversal”, garante Ezequiel Kieczkier, sócio de Olivia.
Por último, em geral, “não se prevê um aumento de estruturas por parte das empresas já que estes movimentos estão ligados e continuam de maneira reativa à conjuntura econômica do país. Como ponto de referência objetivo, por exemplo, durante os últimos 5 anos as cifras oficiais de emprego formal têm se mantido estáveis, com algumas exceções específicas, produto de aumentos no setor público”, diz Javier Carballo, diretor Comercial Corporate de Aon Argentina.
“Estamos vendo várias empresas diminuindo o quadro de seus empregados, que em minha visão é um erro de estratégia. Como todos os momentos de mudança, deveriam servir para que nos preparemos melhor para o futuro, são os momentos nos que os empresários que têm intuição começam a investir em estrutura, em pessoas, em tecnologia, para assim poder dar a volta por cima quando a situação econômica permita. É um tempo para reinventar-se", conclui Bárbara Toth, CEO de FESA Group Argentina.
Você pode ver a reportagem aquí.