Nas últimas semanas podemos apreciar como as “gigantes tecnológicas” estão se comportando. Talvez não seja as ações que imaginávamos 24 meses atrás. Todos nós lemos que se adiantam e se fazem presentes as demissões massivas naquelas companhias que há meses estavam em bonança e consideravam insatisfeita sua demanda de talento. Tanto que estavam figurando nos rankings das melhores empresas para trabalhar. Todas elas com ações dignas de um filme da Disney como a Cinderela, com relação às suas experiências com funcionários, salários privilegiados, flexibilidade máxima, equipamento de primeira linha em cada uma das disciplinas, ações em parte de pagamento, programas de incentivo à estadia a longo prazo irrecusáveis, planos de carreira geniais, entre outros modelos de compensação que tornava difícil competir na corrida de atração de talento.
Embora tenhamos pensado que não seria igual em toda parte, depois começaram as candidatas a unicórnio locais de cada um dos países Fintech, EdTech, e todas as que compartilham o sobrenome tecnológico a realizar movimentos destas mesmas características em escalas menores.
Agora, em geral, alegam erros na supercontratação ou expectativas não cumpridas, ou temor à recessão que lentamente bate na porta com o aumento recorrente de taxas nos Estados Unidos, em combinação com a guerra e outros problemas que a esta altura do mundo pode-se dizer que são a nova normalidade.
O fator relevante para analisar neste caso a partir da ótica da cultura organizacional, que tanto lhes custou construir (espaços ágeis, culturais, horizontais, altos níveis de engajamento), é o impacto cultural que gera a partir daqui estas decisões sem juízo de valor se forem acertadas, prematuras ou responderem aos caprichos da bolsa. Ao não ter capacidade de analisar os motivos me remeto a analisar as consequências particularmente as consequências culturais.
- Em primeira medida sofrerão uma paralisia de performance temporária de sua força laboral. Esta modalidade de reduções trimestrais ou por gotejamento vai gerar pânico entre sua força laboral e uma diminuição total de seu rendimento e cumprimento de resultados. Além de que a curto prazo por temor pode estreitar algum comportamento. O medo nunca foi um grande motor do rendimento.
- Em segundo lugar, a potencial entrada em um processo de desengajamento no qual a perda de sensação de segurança pode potencialmente cortar o contrato emocional dos melhores talentos com a organização. Apenas com um suspiro de alguém em NY um escritório pode perder 10% dos seus colegas.
- Por último, a capacidade de tomar decisões tão difíceis sobre tantas pessoas ao mesmo tempo com certeza vai colocar em jogo o propósito e os princípios culturais (comportamentais) da organização, dependendo da forma como executarem o “down sizing”.
Como cada ação tem sua reação, provavelmente encontraremos um colaborador muito mais cético, zangado com as marcas que representa e com a consciência de que no fundo não está controlando seu destino. Desta forma, esse cenário só gera terreno fértil para potenciais empreendedores em buscar seu destino fora destes grandes porta-aviões que representam as “Gigantes tecnológicas”.
A chave para poder gerar algum tipo de controle do dano ou fortalecer a relação organização colaborador neste contexto ou ainda salvar a essência cultural destas organizações estará na capacidade de humanizar o processo e acompanhar aqueles que saem, mas também aqueles que ficam a partir de aspectos que excedem a quantidade de salários que possam levar.
Desta forma, deve-se comunicar o processo sem que pareça uma fábrica de demissões, acompanhamento emocional das pessoas na saída (com ferramentas como outplacement), velocidade na execução, quanto mais rápido melhor, e ser claro em seu início e seu fechamento. Cuidar dos coletivos mais vulneráveis e assegurar que o processo inclua um olhar de diversidade e inclusão assim como também ter um olhar estratégico para o employee experience de forma integral no processo de saída baseando-se nos valores da organização.
Porque o risco destas organizações em viver uma história da Disney é real, mas sem final feliz, já que a carroça se transformará em abóbora.
Por Ezequiel Kieczkier, Sócio Fundador da Olivia Fonte: @Forbes