Yoel Kluk

A rede invisível onde o trabalho realmente acontece

Quando alguém começa a trabalhar, a empresa não é vivida como está nos manuais. Ela é vivida como está nas pessoas.

Escrito por
Yoel Kluk

Também Diretor da Deepple, a empresa de people analytics que cofundou há alguns anos a partir de sua paixão por ciência de dados, Yoel adora criar estratégias de negócio que conectem inovação com resultados reais.

BLOG-marcelo-Transformación-digital-con-IA-

A cultura não se sente em um PowerPoint. Ela é sentida em quem te ajuda quando você não entende algo. Em quem te diz por onde ir. Em com quem você consulta antes de enviar um e-mail importante. Em quem te ensina, quem te freia, quem te impulsiona, quem te abre portas ou quem as fecha.

Essa é a organização real: uma rede invisível por onde fluem a confiança, o conhecimento, os atalhos e o poder.

Os processos formais existem; mas o trabalho de verdade se move por quem influencia quem.

A estatística por trás do humano: centralidade, entropia e a “probabilidade de surpresa”

Em redes organizacionais, falamos de centralidade — não para saber quem “manda”, mas para entender quem sustenta.
Quem explica quando ninguém mais explica.
Quem escuta quando ninguém mais escuta.
Quem faz o trabalho avançar, mesmo quando isso não faz parte da sua responsabilidade formal.

Também falamos de entropia: o quão previsível ou imprevisível é a sua rede de trabalho.

Uma rede com baixa entropia parece tranquila… até que a pessoa que sustentava tudo “por baixo do radar” sai da organização.
Uma rede com alta entropia tem mais caminhos, mais resiliência e menos surpresas destrutivas.

A “probabilidade de surpresa” descreve, na prática, algo simples:

Qual é a probabilidade de o trabalho parar porque dependemos de uma única pessoa?

A.R.O. (Análise de Rede Organizacional) não é um diagnóstico nem apenas uma sociometria; é uma forma honesta de enxergar o que realmente acontece

Em Readiness to Change, quando identificamos impulsionadores e resistores da mudança, não fazemos isso para rotular pessoas. Fazemos para simular:

  • quem pode formar melhor outras pessoas,

  • quem será um excelente key user mesmo sem um cargo de nome pomposo,

  • quais alianças políticas precisam ser trabalhadas antes de mover uma peça,

  • quem influencia em silêncio mais do que qualquer diretor.

Porque a mudança não depende de um plano. Depende da rede que vai executá-lo.

Com o LAT, essa mesma rede revela líderes ocultos que não aparecem nas reuniões, mas sem os quais o clima organizacional se desmorona. E a pergunta não é “quem são eles”, mas o que fazemos com eles:
Nós os desenvolvemos formalmente?
Nós os protegemos?
Nós os movemos estrategicamente?

No fim, não se trata de medir relações; trata-se de antecipar consequências

A.R.O. se torna poderoso quando combinado com modelos preditivos: quando conseguimos visualizar o que aconteceria se…
se movimentarmos alguém,
se capacitarmos um grupo,
se um líder informal se tornar formal,
se um resistor-chave for ignorado ou integrado.

A força não está na rede em si, mas nas decisões que ela possibilita.

Os processos definem como a organização deveria funcionar.
As redes definem como ela realmente funciona.

Se queremos transformar culturas, lideranças ou formas de trabalhar, não basta medir clima ou desenhar capacitações.

Precisamos entender a rede humana onde o trabalho acontece de verdade.
É ali que estão os riscos, as oportunidades e as soluções que sempre pareceram invisíveis.

É ali que a mudança começa.

 

Por Yoel Kluk, sócio da Olivia México.

Outras reflexões de Yoel Kluk

A falácia da ação por análise: quando RH confunde medir com transformar

Mas, ao medir tanto, às vezes esquecemos o essencial: os dados não mudam nada se não mudam as decisões.
Leia mais

A armadilha dos dados —de pessoas— que enganam com precisão

Este é o segundo artigo de uma série de três sobre data fallacies, os erros mais comuns ao interpretar dados que, longe de nos ajudar, podem nos levar...
Leia mais

Além das médias: a armadilha das métricas resumidas no People Analytics.

Os dados se tornaram uma ferramenta essencial para a tomada de decisões. No entanto, mesmo com dados abundantes, é fácil cair em armadilhas que nos le...
Leia mais