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Que a inteligência te acompanhe | Olivia

Escrito por Alejandro Goldstein | 17/jul/2024 12:56:55

A IA está entre nós, nos atravessa. No entanto, como humanos, não sabemos como conviver com ela. Muito menos, como gerar valor através dela. Como em qualquer relação saudável, o segredo está em nos fazer uma pergunta e agir em conformidade.

Era uma daquelas tardes quentes dos primeiros dias do verão madrilenho. O ônibus me deixou bem em frente a um cartaz. Sua imagem mostrava o smartphone de última geração que uma das maiores operadoras da Espanha estava comercializando. No centro, uma frase: “Que a inteligência te acompanhe”. Não restava dúvida a que inteligência se referia. A frase me pareceu sublime. Não pela analogia a que a empresa fazia referência, mas pelo impacto que me gerou: quão inteligentes estamos sendo ao nos posicionarmos diante dessa nova força chamada Inteligência Artificial? Nada inteligentes - para não dizer outra coisa - foi minha resposta interna.

Especialmente nas organizações, continuamos nos aproximando da IA como sempre fizemos quando enfrentamos uma nova inovação tecnológica. Tentamos entender para que serve, como podemos aproveitá-la, quais processos nos permite melhorar e quais dinâmicas aumentar. E assim, estamos “pifiando” - como diria um amigo argentino - de forma monumental.

É que, como bem insinua a frase do cartaz, a IA não é uma tecnologia a mais. É uma força tecnológica que, hoje, já atravessa nossa vida em todos os sentidos e, muitas vezes, sem que percebamos. A IA nos acompanha quando acordamos, ao prepararmos o café, quando ouvimos ou vemos as notícias, quando viajamos de carro para o trabalho, mas também no metrô, no escritório, ao coordenar com os amigos, ao reservar a mesa para o jantar e, no pior dos casos, até para encontrar o caminho de volta para casa. Não resta mais âmbito da nossa vida que não esteja hoje de alguma forma intervindo pela IA. Tomá-la então como uma tecnologia a mais que podemos ligar e desligar quando considerarmos correto já não está em nossas mãos. E, se para o bem ou para o mal, ainda está por ver, a IA sabe aprender e melhorar por si só. Não nos precisa em nenhum sentido.

Diante dessa onipresença, temos que entender que tanto em nossas vidas privadas quanto profissionais, o futuro será compartilhado - talvez pela primeira vez na nossa história como humanos - com uma inteligência diferente da nossa. Ainda não sabemos se esta será melhor do que a nossa ou não. O que deveríamos entender a partir daqui é que nossa postura em relação a essa tecnologia deve ser diferente da que utilizamos com qualquer outra anterior. Não é mais do mesmo.

Como nos relacionamos com a IA para gerar valor

No mundo das organizações, devemos nos perguntar como gerar valor através da IA. No entanto, hoje parecemos mais preocupados em tentar projetar em quais áreas impactará mais ou menos o poder da IA e com que resultado. Com isso, não só ficaremos sempre aquém, como também corremos o perigo de ficar à mercê da força que é a IA. A recente carta assinada por mais de 200 músicos e cineastas, alertando sobre o crescimento do uso descontrolado da IA, nos dá uma noção do que isso significa.

Como dissemos, a IA não é um robô. É uma força que sabe aprender por si só. Isso significa que, em um futuro não tão distante, os humanos estarão convivendo com a inteligência artificial mais do que a usando. Nessa convivência, a IA nos permitirá avançar em três âmbitos concretos: economizar tempo (automação), adicionar potência (escala) e desenvolver novos produtos e serviços (inovação). No entanto, nessa convivência, nossa inteligência humana e emocional deverá saber se integrar e se complementar com a inteligência artificial. Alcançar essa complementaridade definirá nosso sucesso ou fracasso com a IA. Um dos âmbitos onde melhor se pode entender essa convivência é, por exemplo, na nossa forma de liderar. Se antes podíamos nos basear apenas na nossa experiência e na nossa empatia para mobilizar aqueles que temos sob nossa responsabilidade, a IA agora nos permite trabalhar também com o poder dos dados, reduzindo os possíveis vieses que traz nossa experiência.

Não é o quê, mas para quê

Então, está claro que a IA nos permite melhorar o “quê” (produtos e serviços) e o “como” (automação). No entanto, para poder formular essas perguntas de forma correta, a primeira pergunta é outra: “para quê?”. Como sempre nos lembra Simon Sinek, devemos questionar o que temos que mudar em nossas empresas para aproveitar a IA. Por exemplo, qual área deveríamos adaptar, qual equipe reestruturar ou qual produto ou serviço descontinuar. A pergunta deveria ser, primeiro, para que queremos aproveitar a IA para poder gerar valor. E isso deve ser sempre pensado a partir do propósito da nossa empresa, organização ou negócio. Porque só a partir da nossa razão de ser como empresa podemos genuinamente gerar mais valor, escalando com a ajuda da IA.

Se não pensarmos nossa união com a IA a partir daí, estaremos apenas adicionando variáveis ao nosso modelo de negócio em vez de valor agregado. Lembremos: o aporte da IA não é apenas adicionar competências tecnológicas, mas nos permitir potencializar nosso modelo de negócio para o futuro e assim nossa razão de ser como empresa.

Trabalhando com a IA a partir do “para quê” conseguimos integrar a IA ao nosso modelo de negócio como uma força, não como uma simples tecnologia, que coexistirá conosco; aprenderá ao nosso lado e evoluirá junto conosco. A partir do “para quê” começamos a forjar uma relação de associatividade com a IA. É no “para quê” que nos relacionamos com a IA e agimos em conformidade. Que a inteligência - para saber reconhecer isso - nos acompanhe.

 

Por Alejandro Goldstein, sócio diretor da Olivia.