As cartas sobre a mesa
Como se fosse uma partida de Texas Hold’em Poker, o mundo organizacional foi impactado pela Covid-19 como o “Flop” (primeiras três cartas sobre a mesa) em uma rodada, na final de um torneio. Para os que desconhecem este tipo de formato, a particularidade é que todos os jogadores podem jogar com as cartas que estão sobre a mesa. Portanto, o que vai determinar o sucesso ou o fracasso de um jogo é o resultado da combinação de três fatores:
- As cartas na mesa (Contexto- igual para todos)
- As cartas na mão (Recursos)
- A habilidade do jogador (Capacidades organizacionais)
Se fizermos um paralelo, com certeza a Covid se assemelha a uma rodada pouco prevista, estranha, que obrigou os estatísticos de todo o mundo a analisar seus números para tentar gerar estratégias em um contexto desconhecido.
FLOP (MAIO): UM OLHAR PARA O EXTERIOR
Cada organização, com suas duas cartas em mãos, começou a jogar a partida de jogo baseado em sua experiência e nas habilidades que tinha. A primeira reação com o “Flop” na mesa, quando perguntamos a 150 pessoas em maio (com mais de 50% de gerentes e altos diretores) foi a seguinte: instaurar um olhar criativo direcionado ao mercado, tentando manter o negócio funcionando.
Com pouca visibilidade do futuro, os primeiros passos levaram a estratégias que permitissem repensar os modelos de negócio, reinventando produtos e serviços, tendo em conta que os mesmos poderiam ter impactos nos comportamentos tanto de colaboradores, como de clientes.
TURN (HOJE): UM OLHAR PARA DENTRO
Uma nova carta chega na mesa e o jogo começa a entrar nos eixos. A quarta carta entra em um cenário com maior visibilidade, depois de quatro meses, nos quais todos da mesa já fizeram suas primeiras jogadas. É momento de tomar decisões. Em agosto, voltamos a perguntar a 180 pessoas (com mais de 50% de gerentes e altos diretores) em relação a como avaliar a situação atual e os principais desafios para encarar nesta jornada. Os resultados mostram uma nova tendência: começam a colocar o foco na própria organização, objetivando desenvolver capacidades internas para que possamos nos potencializar.
Embora 73% dos entrevistados, com um olhar retrospectivo, considera que os líderes conseguiram liderar suas equipes de maneira produtiva de forma remota, quando colocamos foco nos principais aspectos a serem desenvolvidos e os principais desafios que as organizações têm pela frente, 68% não hesita em destacar a liderança de equipes virtuais como o principal aspecto a ser desenvolvido. Por outro lado, 66% destaca o desafio de desenvolver novas habilidades e comportamentos no mesmo segmento da organização.
Somado a isso, se nos aprofundamos nas principais dificuldades das pessoas neste novo contexto, 58% ressalta a aprendizagem de habilidades para dirigir equipes remotas e 57% obter o engajamento da equipe.
Os dados, hoje, colocam o foco na liderança como ator principal e catalisador das mudanças da organização. Líderes são vistos como um elo entre negócio, cultura e equipes, em um contexto onde a virtualidade é uma realidade. É o momento de olhar para dentro.
Líderes como parte fundamental
A aposta parece clara. Os líderes vão estar no centro e as organizações têm claro que é o principal ponto para investir.
Tendo em vista este novo cenário, com maiores níveis de virtualidade, aquele líder que foi efetivo na obtenção dos resultados nos últimos meses, já não é o mesmo que precisamos para os novos desafios.
A prioridade atual se dirige para a geração de uma rápida evolução de nossos líderes, permitindo manter envolvidos os membros de suas equipes, muito além das distâncias.
É momento de gerar retrospectivas do processo. Contamos com a oportunidade de passar vários meses trabalhando com grandes componentes de virtualidade. As organizações têm que aprender com as coisas que foram funcionais e tiveram sucesso para que sejam a base da construção dos novos paradigmas de trabalho. Temos que aproveitar o que foi vivido neste tempo e nos redefinirmos em função do que vem por aí.
RIVER: UM OLHAR PARA O FUTURO
A última carta está por ser jogada. Cada um dos jogadores já está armando suas estratégias com o olhar fixo no futuro. A única certeza é de que as mudanças que começaram já não podem retroceder.
Aqueles jogadores que exploraram ao máximo a conjunção entre as cartas na mesa (que são iguais para todos), as cartas na mão (distribuição de recursos) e as habilidades do jogador (capacidades organizacionais adaptadas), com certeza serão os ganhadores desta rodada atípica.
Os resultados vamos poder ver somente quando a última carta chegar na mesa e os jogadores tenham que mostrar as que têm nas mãos.
Por Guido Olomudzski, Gerente de transformaçao da OLIVIA