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Não faz muito tempo, em uma galáxia empresarial não muito distante, vivia-se em uma situação-limite que estava colocando à prova a capacidade de seus habitantes de como lidar com a mudança.

Foto: Getty Images

*Atenção contém spoilers da saga*

Não faz muito tempo, em uma galáxia empresarial não muito distante, vivia-se em uma situação-limite que estava colocando à prova a capacidade de seus habitantes de como lidar com a mudança. Uma situação inesperada e crítica teria colocado à prova a todos e a cada um dos mecanismos do sistema…

 

Todos sabemos que Star Wars marcou um antes e depois no gênero da ficção-científica. Também é óbvio que seu criador, George Lucas, foi um visionário. O que talvez nem todos tenham tão claro é que, a saga que marcou gerações, pode interpretar-se como um tratado empresarial que antecipou tendências que ninguém vislumbrava naquele momento.

Para os não tão especialistas  na saga A Guerra das Estrelas, ponhamos um pouco de contexto. O primeiro filme de Star Wars foi estreado em maio de 1977, ou seja, há quase 44 anos. Tento desvendar como que com esta estreia, anteciparam tendências aplicáveis em 2021 à gestão empresarial que estamos vivendo hoje e a profunda transformação ocorrida nas organizações neste último ano. Embora não deixe de ser uma ficção, vejo na história  de Lucas um modelo simples, didático e divertido para entender o desafioque a pandemia expôs à nossa cultura de negócios.

Comecemos pelo título, Star Wars: A new hope que em sua versão em castelhano passou a chamar-se La Guerra de las Galaxias: una nueva esperanza (A Guerra das Estrelas: uma nova esperança). Este primeiro filme trata sobre o império, um sistema multiplanetário que pretende estabelecer seu monopólio sobre a galáxia. Por outro lado, estão os rebeldes, uma pequena organização que compete com o Império e que é contrária a todos os pontos de vista.

A visão do Império como organização é submeter todos os planetas e seus povos a uma forma de gestão e de pensamento únicos. O filme descreve graficamente por que tal visão não inspira muito aos membros que formam esta organização.

Ao mesmo tempo fica em evidência que o tamanho certamente não é um parâmetro de utilidade quando uma organização está obrigada a desenvolver-se em um entorno volátil e de incerteza. Por outro lado, temos os “Rebeldes S.A.” cuja visão motivadora tem a capacidade de despertar e manter o compromisso de cada membro da organização. Mais ainda, é esta visão a que permite gerar uma força motora capaz de fazer com que seus membros, os rebeldes, enfrentem com coragem situações impossíveis e saiam vitoriosos. Outro ponto de antecipação para Lucas: a definição da visão e a missão das organizações é imprescindível para o sucesso. Hoje o chamamos de propósito.

A cultura do medo 

A principal ferramenta do Império para conseguir seus fins é o medo e o controle. Esta organização não tenta motivar seus discípulos nem busca seu compromisso. O sistema se define por uma regra: triunfa ou morre. Claramente, não se permite o erro. Por exemplo, uma das cenas mais duras é aquela em que Darth Vader mata os que cometeram um erro. Uma de suas frases míticas, “me falhaste por última vez comandante”, constitui o exemplo contrário da cultura da aprendizagem. Esta cultura do medo, faz com que seus aliados  não sejam transparentes com ele, ocultando-lhe os erros e, portanto, poder aprender deles. Neste sentido, os rebeldes destroem duas vezes a estrela da morte, porque ninguém se atreveu a reconhecer que haviam feito algo mal na primeira vez. Outro claro exemplo são as tropas de assalto do império: é quase cômico como estes soldados não acertam no alvo nem a meio metro de distância. Imaginemos um responsável comercial de qualquer empresa, tendo que vender algo sob pressão, para cumprir com uns indicadores empresariais que não compreende e bloqueado pelo pânico a ser despedido, que opções de sucesso terá? No outro extremo temos os rebeldes, cuja ferramenta é o compromisso que se sustenta em uma visão transcendente na qual  o erro está permitido e considerado como parte da aprendizagem. De fato, uma das frases mais célebres da saga é a de Yoda: “Faça, ou não faça. Tentativa não há. ”

Ao longo dos diferentes filmes da saga, há situações onde os rebeldes se equivocam e a reação do resto da equipe é tomar isso com humor e apoiar quem tomou a decisão. Isto lhes permite ter uma cultura da aprendizagem determinante para seu sucesso. Nos tempos atuais, os autores Dan Senor e Saul Singer descrevem de maneira muito acertada esta filosofia do fazer em seu livro: Start-UP Nation: A História do Milagre Econômico de Israel.

O sucesso que tem Israel com sua campanha  de vacinação contra a COVID-19 tem muito a ver com esta maneira de pensar e de atuar.

Um coquetel molotov galáctico

Do ponto de vista da estrutura organizacional , o Império tem uma cultura completamente hierarquizada e piramidal. Isto implica que a tomada de decisões diante de situações que requeiram agilidade seja muito lenta, já que cada decisão tem que estar validada pelos superiores. Esta estrutura empresarial unida à cultura do medo ao fracasso é um “coquetel motolov” que faz com que o Império perca todas suas oportunidades de mudança para continuar competindo ao não ter pessoas capazes de tomar decisões. Por outro lado, este modelo de estrutura não desenvolve a capacidade de formação e a aprendizagem, já que considera que não é necessário aprender, tudo são ordens. Então, o conhecimento sustenta-se na sabedoria da diretoria  formada  pelo Imperador e Darth Vader. É, portanto, uma perda de tempo promover o pensamento crítico. Esta estrutura tem outra característica importantíssima que a faz explosiva: não dá nenhuma importância ao fator humano. Nenhuma de suas decisões “empresariais” têm em conta seus colaboradores. O resultado é que reforça o medo, antes mencionado, e faz com que seus empregados não tenham nenhum nível de compromisso com o Império.

Comparando-o com nossa organização, os rebeldes, têm uma estrutura completamente ágil nos termos que conhecemos na atualidade e que dá nome a uma das metodologias dianteiras na gestão empresarial atual.

Rebeldes S.A. está composta por pequenas equipes- de fato, no filme já utiliza o termo de squads que se emprega na metodologia ‘agile’-, que se constitui tendo em mente um claro objetivo, mas com liberdade de movimentos. Dito de outra maneira, estas equipes/squads estão completamente empoderadas para aprender à medida que vão acontecendo os fatos e ir adaptando-se às circunstâncias. Isto é decisivo durante numerosas situações ao longo da saga, o que lhes permite sair triunfantes em situações complexas.

Novamente a leitura de Start-Up Nation, nos deixa uma excelente visão de como estas simples regras permitem beneficiar, não somente nossas organizações e sim toda a sociedade.

Além disso, na definição de todas as estratégias dos rebeldes se coloca no centro a equipe humana, as possíveis desistências, o dano emocional, entre outros fatores. Isto reforça consideravelmente o compromisso dos colaboradores fazendo com que enfrentem situações impossíveis e saiam vitoriosos por sua fé na vitória e sendo conscientes de que cada um deles é peça-chave para sua organização. Não podemos esquecer que se trata de uma saga de ficção científica, mas não deixa de assombrar a relação com as situações que a pandemia trouxe para as empresas.

Na mistura está a força

George Lucas nos adianta um último conceito-chave para o sucesso de qualquer organização: a diversidade. É preciso entender o termo, não somente como a variedade de raças, culturas e crenças e sim como o respeito com as mesmas e isto está na base de suas crenças. Como se pode ter uma visão de liberar a galáxia, se as diferentes raças e crenças que a compõem não se sentem participantes? Todas as equipes estão compostas das pessoas mais diversas que possamos imaginar. Também é parte da beleza visual de Star Wars. Dos Ewoks, humanos, Chewbacca, Yoda e uma lista imensa. Estas equipes representam diferentes idiomas, múltiplas religiões, diferentes hierarquias, diferentes gerações, Obi Wan é um ancião e Luke é quase uma criança. Na definição de cada estratégia para vencer o Império, todos participam, todos são escutados e através destes diálogos, são capazes de criar planos inovadores que sempre pegam o inimigo de surpresa.

Enquanto em nosso odiado Império não se acredita na diversidade, todos os imperiais são da mesma raça, humanos, todos vestem um escudo ou uniforme ocultando a pessoa que está debaixo, compartilham as mesmas ideias e além disso não está permitido desafiá-las. É tão assim, que as forças de assalto do Império são clones. Não podemos ter um exemplo mais visual de uma empresa.

Conclusão galáctica

Na mistura de propósito, agilidade, visão, diversidade e inovação que constituem a força da mensagem empresarial e de gestão de Star Wars. Contém todos os ingredientes necessários de uma cultura de empresa preparada para enfrentar novos desafios. É por esta combinação que uma empresa pequena consegue vencer ao todo-poderoso Império, uma empresa hegemônica e que se consolida no mercado. Conseguem algo que parece impossível, mas que aplicado a nosso mundo empresarial temos visto numerosas ocasiões. Regressando à  nossa galáxia e ao nosso tempo, ponhamos algo de contexto. Atualmente, 71% das empresas a nível mundial começam a utilizar metodologias ágeis, segundo o Project Management Institute (PMI). De acordo com este mesmo relatório, as empresas ágeis aumentam sua renda 37% mais rápido e geram 30% mais de lucro diante daquelas empresas que não fazem a gestão “agilmente”. Ou seja, a fórmula do sucesso dos rebeldes (diversidade, agilidade, visão compartilhada e transcendental e também inovação) funciona. É claro que não foi preciso que incluíssemos George Lucas como visionário empresarial, isso está diante dos olhos. Mas o que devemos aprender do modelo para nossas organizações é diagnosticar se nos vemos perto do lado escuro e trabalhar para que nossa empresa e nossas equipes sintam-se rebeldes… e que a força nos acompanhe.

Por Oscar Velasco, Socio Olivia España

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