Rotatividade, desempenho, clima organizacional, liderança… tudo isso que medimos com dashboards e pesquisas tem uma raiz mais profunda: as relações reais entre as pessoas, e a influência que umas exercem sobre as outras.
A boa notícia: já é possível mapear e antecipar esses padrões. A má notícia: pouquíssimos estão fazendo isso bem.
A influência não é uma “soft skill”. É um acelerador silencioso de quase todos os fenômenos organizacionais relevantes. E embora as pesquisas tradicionais tragam informações valiosas, elas o fazem a partir da superfície. São úteis, mas incompletas.
Os modelos que combinam pesquisas + nomeações + redes geram uma compreensão radicalmente mais profunda.
Vejamos como isso se traduz:
Rotatividade: Pessoas emocionalmente influentes geram pertencimento. Quando saem, arrastam energia, vínculos e estabilidade. Antecipar sua possível saída não é apenas prevenção de rotatividade: é prevenção de fraturas invisíveis.
Desempenho: Pessoas com alta influência técnica melhoram os resultados de quem está ao redor. São centros de solução, clareza e impulso. Muitas vezes não têm cargo de chefia. Mas têm impacto direto na produtividade coletiva.
Clima organizacional: A influência cultural molda o clima mais do que qualquer campanha de comunicação. O que as pessoas influentes toleram, replicam ou celebram se torna o “normal” na organização. A cultura não se escreve. Ela se contagia.
Liderança: Você pode ter o cargo mais alto e ainda assim não ter influência. Um líder que não influencia é um líder que não executa. A execução depende de relações reais, não de hierarquias formais.
Spoiler: não se mede apenas com pesquisas. As pesquisas têm valor, mas também limitações. As redes, por outro lado, revelam o sistema.
As pessoas podem responder com viés: dizer o que acham que devem dizer, o que o chefe espera ou o que não as coloca em risco. Mas há algo que não podem controlar: quem as nomeia.
As nomeações: o cadeado contra o viés
Quando você pergunta a alguém:
A quem você recorreria se precisasse de ajuda real?
Quem te inspira a melhorar?
A quem você seguiria se tudo saísse do controle?
Não há como fingir. Se ninguém te nomeia, ninguém te nomeia. E se muitos o fazem, é porque você está gerando impacto. As nomeações são uma forma silenciosa de votar na liderança real.
Quando integradas com perguntas bem construídas e modelos psicossociais, as ARO (Análises de Redes Organizacionais) permitem detectar influência emocional, técnica, cultural, relacional… e mapear como essa energia circula.
Também não basta saber se alguém é influente. Também importa onde essa pessoa está posicionada no sistema.
Algumas pessoas estão no centro da rede, conectadas a outros nós-chave.
Outras são pontes entre silos, permitem que a informação circule entre áreas que normalmente não interagem.
Algumas estão isoladas, mesmo tendo muitos likes no Yammer.
Essas configurações modificam a capacidade real de fazer as coisas acontecerem. E mudam completamente como entendemos o poder dentro de uma organização.
Quando você cruza nomeações + tipo de influência + posição na rede, você tem um GPS organizacional.
Você pode antecipar:
Quais pessoas são chave para sustentar o ambiente de trabalho.
Quem pode facilitar ou bloquear uma transformação cultural.
Quem você precisa proteger como ativos intangíveis, mesmo que não estejam no radar formal de talentos.
Quais equipes estão isoladas da mudança, mesmo que nos relatórios pareça que tudo flui.
Tudo isso não é opinião. É estrutura. É rede. É comportamento coletivo.
O problema? Continuamos gerenciando cultura como se fosse um slogan
Queremos transformar o ambiente, mas não sabemos quem o molda. Queremos impulsionar a mudança, mas ignoramos quem realmente influencia. Queremos cultura ágil, mas não mapeamos a rede humana que pode (ou não) viabilizá-la.
A influência é o algoritmo humano que as empresas ainda não terminaram de mapear. Mas ele está lá. Decidindo mais do que o CEO.
E agora, uma pergunta incômoda:
Sua próxima iniciativa de mudança parte de um organograma... ou de um mapa de influência real?
Por Hernan Tello, sócio da Olivia.