A chave para o futuro do trabalho: desenvolver nossa sabedoria acima da nossa inteligência.
À medida que a inteligência artificial avança, percebemos que o verdadeiro diferencial não está em competir com as máquinas, e sim em sermos profundamente humanos. A chave para o futuro do trabalho: desenvolver nossa sabedoria acima da nossa inteligência
A ameaça tecnológica para o futuro do trabalho
A IA, com tudo o que já pudemos comprovar até agora, funciona principalmente como uma ferramenta que, muitas vezes, nos oferece atalhos. Em certo sentido, ela pode ser comparada a um telefone celular: há 25 anos, sabíamos números de memória, exercitávamos nossa capacidade mnemônica, tínhamos uma relação direta com os dados. Hoje, armazenamos tudo no dispositivo e, aparentemente, temos mais tempo livre. Mas o que fazemos com esse tempo? Muitas vezes, simplesmente o perdemos rolando nas redes sociais.
A pergunta não é se a tecnologia soma ou subtrai, mas sim como a utilizamos. E, mais importante ainda: o que resta ao ser humano como trabalho verdadeiramente humano quando as máquinas já são capazes de executar muitas de nossas tarefas técnicas?
Imaginemos que pedimos a um aplicativo de IA para escrever uma carta de amor. Provavelmente obteremos algo tecnicamente correto, com as palavras certas e a estrutura adequada. Mas é bem possível que falte algo fundamental: a alma, a intenção, a história pessoal que torna essa carta única e irrepetível. O que resta ao humano é ser mais romântico do que antes. O romantismo comum, automatizável, deixou de existir. Agora, precisamos ir além, por algo genuinamente nosso.
Esse princípio se aplica a todas as disciplinas humanas: quanto mais o básico for automatizado, mais valor terá o que é autenticamente humano. O trabalho do futuro exige o desenvolvimento de competências e habilidades. Antes, bastava estudar, obter uma especialização, fazer um mestrado e isso servia para toda a vida profissional. Hoje, isso já não é suficiente. Nesta nova etapa, quanto mais “humano” alguém for, mais chances terá de conseguir trabalho.
Da inteligência à sabedoria: o verdadeiro salto evolutivo
A IA não vai substituir nossa inteligência, vai complementá-la. Mas isso nos obriga a dar um salto qualitativo: passar de inteligentes a sábios. Vejamos um caso cotidiano do mundo do trabalho: tradicionalmente buscávamos contratar talentos jovens e inteligentes, mas, na hora de colocar alguém em um cargo-chave, buscamos sabedoria.
A diferença é fundamental: inteligência é resolver algo rápido; sabedoria é fazê-lo no momento certo. A sabedoria reúne conhecimento, experiência e aquela formação própria que permite, diante de uma sucessão de fatos, tomar um caminho diferente porque se tem uma visão distinta. Isso é profundamente humano.
Essa mudança de paradigma traz consigo o colapso do papel tradicional do chefe, supervisor ou gerente como mero controlador de processos. O que ressurge com força são os superespecialistas: pessoas que não apenas dominam tecnicamente sua área, mas que também podem oferecer essa perspectiva humana única que nenhuma máquina consegue replicar.
As power skills, antes chamadas de soft skills, tornam-se o verdadeiro diferencial. Pensamento crítico, pensamento estratégico, capacidade de gerar empatia, habilidades gregárias que nos permitem criar algo novo junto a outros. Segundo o Fórum Econômico Mundial, essas competências ganham cada vez mais relevância – e todas são essencialmente humanas.
A inovação e a criatividade nascem do coletivo, e não do individual. As power skills dizem respeito àquilo que nos une como seres humanos para criar algo novo, em vez daquela inteligência que nos dá o poder de ter razão sobre algo que já não existe.
A combinação perfeita: tecnologia + humanidade
Não podemos deixar de lado o conhecimento técnico, mas a excelência técnica já não é um diferencial. Ela está aí, está em nós, está ao alcance da tecnologia. Talvez a diferença, ao menos por um tempo, esteja em como usamos essa tecnologia – mas isso também vai se tornar uma commodity. O que é realmente diferente é essa capacidade humana de nos reunirmos com outros, criar o futuro, mudar o presente e gerar adesão para iniciar esse caminho. A isso chamamos de visão estratégica, e isso é insubstituivelmente humano.
Se tivéssemos que desenhar uma estratégia de upskilling e reskilling para os próximos anos, o foco estaria claro: desenvolver pensamento crítico, pensamento estratégico, capacidade empática e habilidades colaborativas. Todas essas competências se desenvolvem na experiência, na prática, na relação com os outros.
A formação do futuro não será tanto sobre o que aprender, mas sobre como pensar, como se relacionar, como criar valor genuinamente humano em um mundo cada vez mais automatizado. O que será cada vez mais valioso é a capacidade humana de oferecer uma perspectiva única, criar conexões inesperadas, gerar empatia genuína e construir futuros que ainda não existem.
O futuro do trabalho não é competir com as máquinas – é ser autenticamente humano
E essa pode ser a melhor notícia que poderíamos receber em meio a tanta incerteza tecnológica.
Na OLIVIA, acreditamos que a transformação cultural das organizações passa justamente por reconhecer e potencializar essa dimensão humana única e irrepetível que cada pessoa traz. Porque, no fim do dia, as empresas são feitas por pessoas – e as pessoas são irreparavelmente humanas.
Por Ezequiel Kieczkier, sócio e CEO da Olivia.