Irene Marques

Os humanos estão colocando em risco o seu projeto de TI.

Não basta implementar IA. Sem medir a disposição da equipe e entender seu clima emocional, a resistência à mudança pode frustrar todo o projeto.

Escrito por
Irene Marques

Sócio da Olivia México. Especialista em facilitação e desenho de workshops de inovação, alinhamento, priorização, prototipagem e implementação estratégica como drivers de transformação.

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Em muitas empresas, a transformação digital é anunciada com um e-mail que diz: “a partir de segunda-feira, nova plataforma”. 

Algumas sessões expressas, uns PDFs e pronto. Ferramenta implementada. Ou assim se pensa. O verdadeiro problema começa depois, quando as equipes se deparam sozinhas com o uso da nova tecnologia, sem clareza, sem acompanhamento e, muitas vezes, sem liderança.

Essa lógica improvisada é mais comum do que parece, mesmo em grandes organizações. E em um momento em que a pressão para incorporar inteligência artificial se tornou uma urgência, continuar gerenciando a mudança dessa forma pode sair muito caro. Porque não se trata apenas de implementar tecnologia, mas de fazer isso sem comprometer dados sensíveis, processos-chave ou a confiança da equipe. Como garantir isso se nem sequer se sabe como as pessoas estão reagindo à mudança?

A maioria das falhas em projetos de adoção tecnológica não ocorre por problemas técnicos, mas por fatores humanos mal gerenciados: resistência à mudança, falta de alinhamento, medo de substituição ou ausência de uma liderança clara. E o problema mais grave é que, muitas vezes, as organizações nem sequer detectam esses sinais a tempo.

People analytics permite identificar esses pontos cegos antes que seja tarde. Não se trata de uma tendência, mas de uma ferramenta crítica para entender como as equipes se sentem, como se movimentam as lideranças informais, quão dispostos estão para adotar uma nova tecnologia. Sem essa leitura, a implementação acontece no escuro. E, nesse cenário, a probabilidade de fracasso é alta.

Em setores tão estruturados como o automotivo, por exemplo, observamos que as equipes que deveriam liderar a mudança muitas vezes não têm clareza sobre seu papel, nem tempo suficiente, nem o respaldo visível de seus líderes. Em vez de serem uma força de avanço, acabam gerando atrito silencioso. Se os executivos não têm dados que revelem esse estado real da equipe, dificilmente conseguirão intervir com eficácia.

A paradoxo é claro: tomam-se decisões altamente tecnológicas sem fundamentos humanos. Pressiona-se para “digitalizar” sem saber se as pessoas entendem o propósito, capacita-se sem saber se estão prontas, mede-se o avanço sem olhar para a real disposição à mudança.

Transformar não é apenas adotar ferramentas. É entender como cada área, cada equipe e cada indivíduo vive essa transformação. E isso só é possível se cruzarmos o olhar de negócio com dados de comportamento, cultura e percepção. Sem essa integração, a IA e qualquer outra tecnologia serão apenas mais um PDF na pasta de “capacitação”.

Hoje, mais do que nunca, o risco não é ficar para trás na inovação. O verdadeiro risco é avançar sem saber se sua equipe está vindo junto.

Por Irene Marques, sócia da Olivia.

 

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