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O cenário que atravessamos não deixa de nos exigir. A estabilidade mal começa e parece escorrer entre nossas mãos. Mas justamente esse poderia ser nosso futuro.

A pandemia não inventou o Novo Normal. Há anos que falamos dele e não somente no âmbito econômico. Por exemplo, em 2021, o seriado de comédia The New Normal se apropria da maior diversidade que evidenciava nossa ordem social através de famílias com pais de um mesmo gênero. Uns anos antes, os departamentos de estratégia das grandes corporações utilizavam o termo para projetar a nova ordem econômica que estava “desenhando” o impacto da crise financeira global de 2008. A batalha contra a COVID-19 gerou a mesma expectativa: no começo, reforçado pela profundidade da mudança que chegou através de uma transformação digital obrigada e a nível global, acreditava-se que ao sair da pandemia nos encontraríamos com um novo mundo.

A razão é simples: o ser humano busca sempre gerar uma expectativa positiva à medida que atravessa um processo de mudança. Era lógico que, ao iniciar a pandemia, projetássemos e ambicionássemos o Novo Normal que nos esperava na “saída” como algo melhor. No trânsito do Velho para o Novo Normal, iríamos adquirir novos comportamentos, hábitos e novas formas de nos relacionarmos. Tudo para redefinir um futuro marcado pela flexibilidade e mudança. No entanto, à medida que nos adentramos na segunda metade do ano de 2021, O Novo Normal parece tão distante como em março de 2020.

Mesmo quando a atividade econômica empurra positivamente- por exemplo, no segundo quadrimestre EUA cresceu 6,5% contra o mesmo período do ano passado, a zona Euro, 13,7% e China 7,9% - são vários os mercados que no fechamento deste artigo, estão atravessando sua quinta onda de infecção. Enquanto isso, a volta ao escritório se confunde entre modelos que aprendemos a definir como “Híbridos” ou “Presenciais”, sem saber exatamente de que dimensões estamos falando. E, à medida que alguns países superam o limite de 50% de sua população totalmente imunizada, existe resistência de setores à vacinação, transferindo a tensão que vivemos para dentro de nossa organização. Como se isso fosse pouco, novos episódios naturais e sociais de uma intensidade desconhecida reforçam a sensação de que vivemos em um mundo mais frágil e incerto que o anterior.

 

Então, a empírica demonstra que- seguindo nossa acostumada matriz mental- ao pensar no mundo pós-pandemia quisemos ir de um estado de Velho Normal a um de Novo Normal. E, aparentemente, não conseguimos cumprir (completar) com o ciclo. E aqui é onde convido a questionar nossa visão sobre o presente.

 

Uma sequência de flexibilidade

Todo este ano, estivemos falando de ondas de infecção que nos aproximava ou afastava do Novo Normal desejado. No entanto, será que não nos equivocamos na interpretação? Será que o Novo Normal não é um ponto de chegada e sim um processo de constante mudança?

Lembremos: em 1994, a Amazon reconfigurou a forma de consumir; em 1998, o Google nos mostrou que o mundo era muito mais que um globo; em 2003, Tesla começou a desafiar a ideia do transporte; em 2007, o IPhone nos propôs a reaprender a forma de comunicar-nos; em 2009, o Bitcoin nos convidou a reinventar nada menos que o conceito do valor, todas foram mudanças que iniciaram uma nova etapa para nós como humanidade, mas também para nossos negócios. Independente de que não teve sua origem no mundo da tecnologia, a pandemia marcou uma rotunda mudança tão ou mais profunda que todas as anteriores: em pouco mais de 12 meses reconfigurou nossa forma de viver, de trabalhar e de nos relacionarmos. Nos obrigou a manter um estado de alerta para saber adaptarmo-nos à medida que nosso presente muda. E é desse lugar que agora nos exige mudar a visão de como administrar esse presente.

Porque o Novo Normal se pode entender como um surgir e desaparecer de mudanças que nos obrigam a que nos adaptemos todo o tempo. Se definiria como uma sequência de ondas de mudanças que podem ser de qualquer natureza, social ou econômica. A partir dessa visão, deveríamos então repensar e reconfigurar as relações com o trabalho, nossos modelos de produção e de logística. O resultado será uma gestão mais flexível, mais adaptável e, em última instância, mais resistente.

 

Então, o Novo Normal, segundo se apresenta hoje, não tem (nem terá) um ponto de partida ou de chegada. O Novo Normal requer que saibamos “surfar” essas ondas de mudanças que, como indicam os eventos dos últimos dois anos, mas também de nosso passado mais distante, podem chegar a qualquer setor de nossas vidas.

 

Por Alejandro Goldstein, Sócio Diretor da OLIVIA.

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