blog_header-Dec-27-2021-02-13-14-95-PM

Uma conversa imaginária com o gênio universal sobre a inovação, sobre os limites e como afrontá-los para projetar-nos ao futuro a partir do futuro e da experiência.

Leonardo Da Vinci representa a inovação em sua melhor expressão. Pude confirmar isso mais uma vez em uma recente visita ao Museu de Leonardo Da Vinci em Florência. Entre muitos outros objetos e obras de arte, Leonardo desenhou o que prometia ser a primeira máquina voadora; uma ponte desmontável; uma serra automática; uma draga para libertar as vias aquáticas de lama e lodo e, está claro, o primeiro carro autopropulsado, uma espécie de “tataravô” de nosso automóvel atual. Chegou inclusive a criar um equipamento para esquentar a água, utilizando lentes côncavas, gerando uma espécie da primeira fonte de “energia renovável”.

Com a experiência dos últimos anos o reencontro com sua obra me fez entender ainda melhor por que Da Vinci é talvez um dos melhores exemplos de uma mente que nunca aceitou os limites de seu tempo. Soube projetar máquinas, ideias e conceitos que marcaram o futuro da humanidade durante vários séculos até o dia de hoje. Tudo no mundo que, embora começava a ter a coragem de explorar o desconhecido, não necessariamente estava aberto a ideias provocadoras, disruptivas. Mas... por outro lado, as máquinas de Leonardo chegaram a ser consideradas uma ameaça pelos grêmios de artesanatos e fabricantes de sua época. Temia-se que pudessem substituir as pessoas de forma similar ao que ocorre com a inteligência artificial em nossos dias.

 São vários os paralelismos com nossa época. Deve ser por isso que, diante da imagem de seu Ornitóptero- a máquina voadora-, tive coragem de questionar-me como Leonardo veria nosso tempo. Em seguida, nos imaginei tomando um café em plena Piazza degli Uffizi.

Gabriel Weinstein.- Leonardo, quanto tempo sem ver-te. Não imaginas a quantidade de coisas que mudaram nossa vida nos últimos tempos. E não digo pelo doloroso desafio que nos supõe a primeira pandemia do século XXI, algo que não deve soar muito estranho para você. Me refiro especialmente às mudanças produzidas nestes anos e que te fascinariam. Imagine: hoje temos moedas virtuais; carros autônomos; viagens de ócio para o espaço exterior; de sua casa natal em Vinci podemos controlar uma linha de produção no Oriente distante; estudamos e nos comunicamos através de uma pequena tela; podemos produzir carne, farinha e vegetais artificiais que são tão saborosos (ou até melhor) que os originais... e até podemos criar vida.

Mas lamentavelmente também há bastante do que envergonharmo-nos. Por exemplo, que por nossa ânsia de consumir, estamos literalmente queimando a fonte de oxigênio que nos permite viver neste belo planeta além de que 10% da população mundial esteja passando fome.

Estamos sem dúvida em uma encruzilhada e temos que redefinir nosso rumo e voltar a aprender em um contexto mais que desafiante. Por isso, me alegra tanto haver encontrado você e poder conversar com você.

Por exemplo, como soubeste criar o espaço para aprender, quando a saída da norma podia ser castigada, inclusive até com a pena de morte? Embora hoje, pensar diferente não representa a pena máxima, se perduram ainda bastante entornos que castigam o erro em vez de incentivar a aprendizagem. Como farias?

Leonardo Da Vinci.- Em um princípio, o que aprendi é que pensar diferente exige audácia. E como bem dizes, nossa natureza costuma ter como prioridade máxima preservar esse lugar seguro que geralmente chamamos statu quo. No entanto, o novo nunca surge daí. Mas para pensar fora desse lugar seguro, como acho que dizes agora, tens que permitir equivocar-te. Sem o erro não há aprendizagem. Eu tive a sorte de ter duas coisas a meu favor.

Por outro lado, mecenas que esse espaço me deu, tanto no financeiro como no físico. Por outro lado, vivi uma época, como a Florência dos Médici, marcada pelos anseios por saber, explorar, aprender. Esses tempos- não por nada, são parte do Renascimento-, foram base para tudo o que pude fazer depois.

Mas houveram outras experiências que tive que fazer ás escondidas, como foi o caso de meus estudos de anatomia. Lembra que, em minha época, a preservação do corpo humano ainda estava protegida pela Igreja. Também meus numerosos inventos, especialmente meus aparelhos mecânicos, foram sempre um trabalho de ensaio e erro que tive que ocultar até que consegui mostrar seu valor. Não há outro caminho. Resumindo: o entorno para criar e provar coisas novas requer de espaços novos e regras distintas; não acontece em nosso dia a dia. A boa notícia que tenho é que a genialidade não é algo inato ou genético. É algo que se pode buscar e trabalhar.

 

GW.- Do seu próprio caminho de aprendizagem, que nos recomenda para trabalhar com nossas equipes a inovação em momentos de tanta incerteza como agora, que soa similar à etapa que viveste?


LDV.
- Primeiro, entender que a verdadeira inovação nunca é um caminho solitário, e sim que requer de uma equipe e é fruto do trabalho dessa equipe. Como líderes, devemos promover esse sentimento colaborativo antes que tudo. Justamente nessas épocas incertas, como me mencionas, a equipe permite explorar com um menor custo e independente da incerteza que nos possa rodear.

Em segundo lugar, ter sempre em mente que, como criadores e colaboradores, precisamos de tempos mortos também em tempos de instabilidade. Meu quadro “A Última Ceia” é um ótimo exemplo disso. Aprendi que, de vez em quando, minha mente precisa ver outras coisas para que, em seu voo possa descansar e reabastecer o processo criativo. O líder que não entende estes espaços, rapidamente se deparará com equipes cansadas e desmotivadas. E terceiro, continuar a boa regra de “o perfeito é inimigo do bom”. No século XXI julgáis “A Mona Lisa” como minha melhor obra. Pois, é bom lembrar que nunca cheguei a terminá-la porque até o leito de minha morte pensei que tinha que aperfeiçoá-la. Meu conselho seria levar a equipe a desafiar-se constantemente, mas também saber quando pôr fim a uma etapa criativa

GW.- Em tua época, estiveste rodeado de grandes mudanças mas também de grandes líderes. Que conclusão tirastes em matéria de liderança para ser melhores líderes nestes tempos de mudança?

 

LDV.- Algo muito importante é não dar-se por satisfeito nunca, questionar-se e transmitir a paixão pela aprendizagem pessoalmente e à vista de todos. Somente assim nossas equipes se sentirão preparadas para fazê-lo também. Outro conselho, que comprovei em minha vida pessoal, é rodear-se de pessoas de diferentes mundos. Por exemplo, em meu círculo íntimo houve matemáticos e economistas, como Luca Pacioli, que foi precursor do cálculo de probabilidades; o médico e especialista de anatomia Marcantonio della Torre; meu querido Nicolás Machiavello, que em seus dias é considerado o pai da Filosofia Política.

Inclusive com Miguel Ángel, a quem consideras meu rival, pude ter uma relação que nos permitiu aprender um do outro. Com isto quero dizer que não deves ficar com o seguro. Atrevam-se como líderes a acompanhar vossas equipes a lugares onde os interesses se encontram. Nessas interações onde os interesses se encontram. É nessa onde a criatividade e o novo florescem.

Outro dos pontos que aprendi é que em uma época na qual a informação floresce e enriquece, isto pode ser aproveitado para desafiar vossas próprias crenças. Isso é algo que um líder jamais deveria deixar de fazer: validar suas próprias opiniões com informação objetiva e de maneira constante. Ainda mais, em uma era como a do século XXI, com os níveis de acesso à informação que me comentas.

Até aqui chegou minha conversa imaginária com o mestre. O interagir com seu legado me recordou que neste tempo complexo e caótico que estamos atravessando, os melhores ensinamentos estão ao alcance da mão. Não precisamos de iluminados que nos mostrem o caminho como líderes e como organizações. Com conseguir olhar e escutar a quem nos precedeu, podemos encontrar várias das respostas mais úteis que continuam tão vigentes como naquela época. Para Leonardo não seria mais que sentido comum.

 

Por Gabriel Weinstein é sócio e Managing Partner para Europa da Consultora Olivia

 

Se você está interessado neste tema. Quer que entremos em contato com você para resolvermos juntos?

Se você está interessado neste tema. Quer que entremos em contato com você para resolvermos juntos?